Entrevista a Domingos Amaral

Esta semana o nosso entrevistado é o escritor Domingos Amaral.
Com oito romances publicados, um livro de crónicas e ainda um livro sobre Futebol, Domingos Amaral é, sem dúvida nenhuma, uma referência no panorama literário português.
Fiquem a conhecer um bocadinho mais deste escritor:

HT: O Domingos é formado em Economia na Universidade Católica Portuguesa, e tirou um Mestrado em Relações Económicas Internacionais, na Universidade Columbia em Nova Iorque. Como foi viver e estudar em Nova Iorque durante dois anos?
Domingos Amaral: Viver em Nova Iorque foi uma experiência fantástica, da qual tenho muitas saudades. Estudei lá entre 1991 e 1993, e gostei muito, tanto da universidade, como da cidade. A vida num "campus" americano é muito intensa, os professores eram bastante bons, as instalações da universidade também, e depois temos uma vibrante cidade, para nos distrair e entusiasmar. Ainda hoje, Nova Iorque é uma das cidades em que gostava de viver.

HT: A sua carreira jornalística teve inicio no Independente, onde trabalhou vários anos. Como classifica essa experiência?
Domingos Amaral: Trabalhei n´O Independente mais de 12 anos, onde fui quase tudo o que se pode ser num jornal. Fui estagiário, repórter, editor e subdirector, e aprendi muito, com as pessoas com quem trabalhei - Paulo Portas, Miguel Esteves Cardoso, Constança Cunha e Sá, etc - e sobretudo a escrever de modo a ser compreendido. A escrita jornalística também se tem de aprender, e aperfeiçoar constantemente, e nisso O Independente foi uma excelente escola.

HT: Tem oito romances publicados. Como é que conseguiu conciliar as suas outras actividades profissionais com este ritmo de escrita?
Domingos Amaral: Enquanto trabalhei em revistas e jornais, publicava normalmente um romance de dois em dois anos, o que apesar de tudo é um ritmo aceitável. Temos de ser disciplinados e organizados, para que seja possível conciliar o trabalho diário, a vida familiar, e a solidão necessária à escrita. Nem sempre é fácil, mas com dedicação e empenho, é possível. O mais importante é não perder tempo com inutilidades, como tomar café, ou falar ao telefone por tudo e por nada. As pessoas perdem muito tempo com inutilidades...

HT: Um dos seus livros mais conhecidos e com maior sucesso é “Enquanto Salazar Dormia”. Há quem diga que o tema “Salazar” é sucesso garantido. Concorda com esta afirmação?
Domingos Amaral: Quando escrevi o "Enquanto Salazar Dormia" ainda não havia essa moda sobre o ditador. Publiquei o meu livro em 2006, e tudo o resto veio depois. De certa forma, eu fui o primeiro a aventurar-me no tema, e correu bem. Talvez por isso, o tema tenha sido também analisado por muitas outras pessoas depois.

HT: Os seus romances retratam épocas da história e são bastante fieis aos acontecimentos originais. A investigação leva-lhe muito tempo?
Domingos Amaral: Sim, a investigação leva bastante tempo, porque procuro sempre que o contexto histórico seja o certo e que a forma das pessoas viverem seja a que existia na época em causa. Por isso, leio muito sobre esses tempos, para que fique com uma ideia mais pormenorizada. Apesar de um romance histórico não ser uma obra de História, tem algumas responsabilidades e não deve deturpar a realidade, mas sim tentar descrevê-la tal como existiu.

HT: A escrita do Domingos é muito cinematográfica. Pessoalmente, ao ler os seus livros, consigo visualizar as cenas. Nunca teve convites para adaptações cinematograficas?
Domingos Amaral: Sim, já tive vários convites, e alguns dos meus romances foram comprados para adaptações futuras pelo cinema. Infelizmente, até à data nenhum deles ainda viu a luz do dia como filme, mas quem sabe o que o futuro nos reserva? Temos de ter a consciência que a indústria do cinema em Portugal não é muito pujante, e por isso produzem-se poucos filmes por ano. 

HT: Alguma vez se sentiu tentado a escrever guiões?
Domingos Amaral: Já escrevi alguns guiões, seja de filmes para o cinema, seja de séries de televisão, e gostei bastante, mas para já ficaram todos na gaveta dos produtores ou das televisões. Quem sabe um dia tenho sorte!

HT: Além dos romances, tem um livro de crónicas e um sobre economia aplicada ao futebol (chamemos-lhe assim): “Porque é que o FC Porto é Campeão e o Benfica só Ganha Taças da Liga?”. Neste livro defende que os clubes que pagam melhor aos jogadores geralmente são campeões. Como é que chegou a estas conclusões?
Domingos Amaral: Além de escritor e jornalista, sou formado em Economia, e comecei recentemente a dar aulas na Universidade Católica, nos cursos de economia e gestão. A cadeira que ensino é precisamente Economia do Desporto, e daí o livro que escrevi, onde uso regras e teorias económicas para explicar o fenómeno desportivo. Uma dessas regras é a forte relação que existe entre a despesa salarial dos clubes de futebol e a vitória em campeonatos. Normalmente, o clube que paga os salários mais altos é campeão, e isso verifica-se em Portugal, mas também em Espanha, Inglaterra, e outros países. Por exemplo, em Portugal, nos últimos 12 anos, em 10 deles isso verificou-se, quem pagou mais foi campeão.

HT: Entrando um bocadinho na esfera pessoal, o Domingos e a Sofia são um casal mediático. Como lida com a exposição pública?
Domingos Amaral: Lidamos bem os dois, mas é preciso compreender também que ambos temos actividades profissionais que levam a essa exposição. A Sofia é relações públicas de uma empresa de relógios, e por isso tem de aparecer muitas vezes. Eu sou escritor, e também me pedem para aparecer muitas vezes. Além disso, também gostamos, por isso lidamos bem com o assunto. 

HT: Para finalizar, em 2012 lançou “Verão Quente”, em Maio deste ano lançou “O Retrato da Mãe de Hitler”. Podemos esperar um novo romance em 2014?
Domingos Amaral: Estou já a trabalhar num novo livro, que espero que esteja pronto lá para Maio de 2014.

Resta-me agradecer ao Domingos Amaral pela simpatia e prontidão com que respondeu às minhas perguntas e esperar ansiosamente pela chegada do seu novo livro, em 2014.

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