Entrevista a Francisco Camacho


Esta semana o nosso convidado para a entrevista é Francisco Camacho.
Em 2007 publicou o seu primeiro romance, Niassa, e em 2013 "A Última Canção da Noite", dois livros a não perder.
Um muito obrigada ao Francisco Camacho pela simpatia e rapidez com que me respondeu.
Fiquem a conhecer um bocadinho mais este autor:

HT: O Francisco foi jornalista até 2011, altura em que se começou a dedicar à edição de livros. Porquê esta mudança?
Francisco Camacho:
Porque sempre gostei de livros e, a dada altura, senti necessidade de fazer uma coisa diferente do jornalismo. Ser editor pareceu-me uma evolução natural. E também porque, como já então era escritor, apeteceu-me estar mais próximo desse mundo. 

HT: O seu primeiro romance tem como pano de fundo África, mais concretamente o Niassa. Tem alguma ligação passada a África ou este tema surgiu por acaso?
Francisco Camacho:
Não tenho nenhuma ligação particular a África, a não ser um grande fascínio pelo continente, que só descobri já na idade adulta. O meu primeiro romance, «Niassa», nasceu de uma reportagem que fiz nessa região do norte de Moçambique, a qual era vista – e suponho que ainda é – como a mais misteriosa do território, muito por causa do seu isolamento e do grande lago que lá existe – o lago Niassa, ou lago Malawi, como diz o resto do mundo. Conheci histórias e pessoas incríveis nessa viagem e resolvi ficcionar essa minha experiência, que foi inesquecível. 

HT: O seu segundo livro, A Última Canção da Noite, tem uma grande componente musical. A música tem um papel importante na sua vida?
Francisco Camacho:
Desde criança que sempre ouvi muita música. Ainda hoje ouço. E também escrevo sobre música há muitos anos. A música tem um papel fundamental na minha vida, sim. Acho que gostaria de ser músico, mas a minha vida não correu nesse sentido. 

HT: Este livro tem também um bocadinho de roteiro, uma vez que passa por várias cidades europeias. A sua experiência como director de uma revista de viagens (Volta ao Mundo) contribuiu para enriquecer esta história?
Francisco Camacho:
Passa por cidades europeias, mas também, e sobretudo, por Marrocos, que é um dos países mais bonitos que conheço. Como director da Volta ao Mundo, curiosamente, viajei menos do que quando trabalhava noutras publicações. Isso aconteceu numa altura de grandes mudanças na revista e tive de ficar muito mais vezes na rectaguarda do que gostaria. Na verdade, viajei mais quando estive na Grande Reportagem, por exemplo, ou talvez até mesmo n’O Independente, do que na Volta ao Mundo. Mas todas essas viagens contribuíram muito para dar consistência à história que conto n’A Última Canção da Noite, até porque, tal como já tinha acontecido no meu primeiro romance, o Niassa, os lugares tendem a ser personagens importantes nos meus livros.  

HT: No processo de escrita de um livro, o que é que lhe leva mais tempo: a investigação ou a escrita?
Francisco Camacho:
A escrita, definitivamente. Pelo menos até agora. No Niassa, a investigação já estava quase toda feita quando comecei a escrevê-lo. Como jornalista, já tinha investigado a maior parte dos temas históricos que o livro trata: o início da guerra colonial, a guerra civil moçambicana, os campos de reeducação etc. A Última Canção da Noite, embora inclua uma parte que tem a ver com uma tragédia recente ocorrida Europa – a guerra dos Balcãs - resulta de um desafio que coloquei a mim próprio, o qual consistia em explorar o mais possível a minha imaginação e o menos possível a realidade dos factos. Queria provar a mim próprio que não precisava da rede de determinado contexto histórico para construir um romance intenso. Acho que consegui cumprir esse objectivo. 

HT: Para finalizar, para quando um novo livro?
Francisco Camacho:
Nunca sei quando é que isso vai acontecer. Não tenho pressa. Ainda estou a saborear A Última Canção da Noite.

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