Entrevista a Manuel Jorge Marmelo

Hoje temos como convidado para a rubrica Entrevistas Manuel Jorge Marmelo, vencedor do Prémio Correntes d'Escritas 2014.
Um muito obrigada ao Manuel Jorge Marmelo pela disponibilidade e simpatia com que respondeu às minhas perguntas.

HT: Publicou o seu primeiro livro, “O Homem que Julgou Morrer de Amor”, em 1996. Ainda se lembra como surgiu o gosto pela escrita?
Manuel Jorge Marmelo: Provavelmente surgiu ainda durante a escola primária. Há algum tempo reencontrei duas colegas dessa época e elas dizem que eu já tinha jeito para as redacções. A ser verdade, suponho que, depois, esse gosto tenha evoluído e amadurecido com a idade e com as leituras, primeiro, e depois com a prática diária do jornalismo, a partir dos 18 anos de idade.

HT: Tem mais de 20 títulos publicados, ganhou o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco (2005) e acaba de ganhar o Prémio Literário Casino da Póvoa. Que diferença fazem os prémios literários na carreira de um escritor?
Manuel Jorge Marmelo: Fazem alguma diferença, não há como negá-lo. No caso do Prémio Literário Casino da Póvoa, por exemplo, foi imediatamente perceptível que uma grande quantidade de leitores procurou conhecer o livro vencedor, o qual, quando foi publicado, em 2011, vendeu pouco mais de seiscentos exemplares. Digamos que o prémio concedeu ao livro uma segunda vida. Ora, se o trabalho de um escritor só está completo quando encontra, do lado de lá, um leitor, e eu acredito nisto, então o prémio faz mesmo muita diferença, para além da mais óbvia componente monetária.

HT: Imagino que, além da escrita, goste de ler. Quais as suas referências literárias?
Manuel Jorge Marmelo: Tenho muitas e variadas. Comecei pelo Gabriel García Márquez e pelo José Saramago, e, de algum modo, as literaturas de língua ibérica são aquelas de que me sinto mais próximo. Leio muitos brasileiros e outros sul-americanos (Vila-Matas, Bolaño, Borges, Rubem Fonseca, Vargas Losa, Cortázar, Veríssimo, Ubaldo Ribeiro, Millás, Torrente Ballester e tantos outros). Mas também leio autores de outras línguas. O Philip Roth. O Robert Walser. O Kafka. O Rushdie. O Italo Calvino. O W.G. Sebald.O Hemingway, E também tive a minha época de Kundera, por exemplo.

HT: Como funciona o seu processo de escrita: tem algum horário predefinido para escrever ou fá-lo quando tem inspiração?
Manuel Jorge Marmelo: A inspiração dá algum trabalho. Acredito que é preciso estar sentado, a trabalhar, para que a tal inspiração apareça. Umas vezes acontece, outras não. Mas é importante manter alguma disciplina, sim.

HT: De todos os livros que publicou até agora, consegue eleger algum que lhe tenha dado mais prazer escrever?
Manuel Jorge Marmelo: É difícil. O ideal, acho, é que tenha sido o último, o mais recente, na medida em que isso corresponderia a um algum tipo de evolução e amadurecimento. Mas lembro-me sempre com muito carinho do livro que escrevi com a Ana Paula Tavares, “Os Olhos do Homem que Chorava no Rio”, na medida em que foi uma espécie de jogo que criámos entre os dois, a partir de uma ideia do nosso amigo comum Paulinho Assunção.

HT: Para terminar, já pensa num próximo livro? Se sim, quer levantar a pontinha do véu? 
Manuel Jorge Marmelo: Talvez o próximo livro saia ainda esta Primavera. Foi um dos efeitos do prémio. Estou a terminar de o escrever. Correndo bem, há-de ser um livro que prolongará a reflexão  em torno dos mecanismos de celebridade, iniciado com “Os Fantasmas de Pessoa” e continuado com o “Uma Mentira Mil Vezes Repetida”. Também há-de ter alguma coisa a ver com a época em que vivemos, com o desemprego e a transformação de adultos úteis em desempregados inúteis, a que me referi na cerimónia de abertura das Correntes d’Escritas.

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