Entrevista a Paulo José Miranda

Esta semana entrevistei Paulo José Miranda, vencedor do primeiro Prémio Literário José Saramago, em 1999.
Um Muito Obrigada ao Paulo José Miranda por ter respondido às minhas perguntas e também à leitora do Histórias Transmitidas que me sugeriu o seu nome.

HT: Editou o seu primeiro livro em 1997. Ainda se lembra como lhe surgiu o gosto pela escrita?
Paulo José Miranda: Não tenho gosto pela escrita, tenho gosto por ler. Comecei a escrever sobre o que lia. Escrever, para mim, é uma extensão do acto de ler.

HT: Em 1999 venceu o primeiro prémio José Saramago. O que mudou na sua vida depois do prémio?
Paulo José Miranda: Que me lembre, nada.

HT: O Paulo é aquilo a que podemos chamar (e li isto algures) um escritor injustiçado. Tem uma obra de elevada qualidade publicada e ,no entanto, não tem o reconhecimento merecido. Consegue encontrar um motivo para isso?
Paulo José Miranda: Não me sinto injustiçado de modo nenhum. Cada escritor tem os leitores que merece. Acho natural que os jornais, que de modo geral são lugares de entretenimento, não liguem a escritores como eu e outros como eu. Por exemplo, e não estou a comparar a minha qualidade literária com a deste escritor, mas em que jornal ou canal de televisão se lê ou ouve falar de Rui Nunes?

HT: Sei que vive actualmente no Brasil. Nunca tentou publicar aí? O mercado editorial é muito diferente do de cá?
Paulo José Miranda: Estive para publicar aqui há 8 anos atrás, logo depois de ter chegado, mas por um erro meu isso acabou por não acontecer...

HT: Li uma reportagem sobre si onde a Jornalista dizia que a Oficina do Livro queria editar não só os seus novos romances como reeditar toda a obra anterior. Isto chegou a concretizar-se?
Paulo José Miranda: Não. A oficina do livro faz parte da LeYa, um grupo editorial que vende livros como podia vender sapatos, e só editei lá o meu romance Filhas por causa do editor que na altura estava lá, o Gonçalo Bulhosa, por quem tenho amizade e respeito. Mas os editores nesses grupos editoriais não têm poder de decisão. Quem decide é o departamento financeiro. Neste momento faço parte da melhor editora independente em Portugal: a Abysmo, que tem um dono, que decide o que quer e quando quer. Este ano vou editar 3 livros inéditos na Abysmo.

HT: Deduzo que, além da escrita, goste de ler. Quais as suas referências literárias?
Paulo José Miranda: Jonathan Swift, Lewis Carrol, Martin Heidegger, Ludwig Wittgenstein, Platão, Aristóteles, Soren Kierkegaard, Píndaro, Homero, Ovídeo, Santo Agostinho, Robert Musil, Hermann Broch, Elias Cannetti, Thomas Bernhard, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Herberto Hélder, José Agostinho Baptista, Raul Brandão, Lobato Monteiro, Raduan Nassar, Aldyr Garcia Schlee.

HT: Para finalizar, pensa voltar a viver em Portugal?
Paulo José Miranda: Se depender inteiramente de mim, não.

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