Entrevista a Pedro Chagas Freitas

Hoje ficamos a conhecer um bocadinho mais de Pedro Chagas Freitas, a quem agradeço esta entrevista.

HT: O Pedro é assim como um “guru” da escrita (pelo menos para mim). Ainda se lembra como surgiu este gosto por escrever?
Pedro Chagas Freitas: Não sou nada. Sou apenas um gajo que escreve e gosta de, como pode, transmitir as suas experiências nesse domínio aos outros. Tudo começa quando começamos a pensar, não é? Olhamos à volta, percebemos algumas coisas. É assim que a escrita começa. Comigo foi mesmo assim: era ainda um miúdo, talvez tivesse uns 12 anos ou menos, quando comecei a pensar. E por isso a escrever. Escrever é pensar. Conheço escritores maravilhosos a quem só falta mesmo escrever. Todos os dias os incentivo. Pode ser que um dia consiga convencê-los. 

HT: Publicou a sua primeira obra (Mata-me) em 2005. Como correu o processo de edição?
Pedro Chagas Freitas: Como todos os processos, creio eu: obra enviada, edição acordada, publicação feita. Nunca dei muito valor ao acto da publicação em si. Antes de publicar o primeiro já tinha escrito sete romances. Enviei tudo o que fui escrevendo a críticos literários, a escritores, antes de enviar para qualquer editora. Não escrevo para publicar; escrevo para escrever. Porque tenho de escrever. É claro que chegar às pessoas é tremendo. Sou viciado nos olhos de quem me lê como a Amália era viciada em aplausos ou como um humorista é viciado em risos, por exemplo. Para ser escritor não é preciso publicar; mas é preciso ser lido. E para isso há que escrever, escrever sempre, escrever mais, escrever até à demência. É isso o que faço. Não me dá especial prazer nem deixa de me dar especial prazer. Faço-o porque só o sei fazer. Porque só sou assim. E às vezes é uma chatice, não é?

HT: Como funciona o seu processo de escrita: tem horários pré-definidos para escrever ou fá-lo quando tem inspiração?
Pedro Chagas Freitas: Só acredito nas inspiração que vem imediatamente antes e imediatamente após a expiração. A outra é treta de preguiçoso. Escrevo sempre que quero e posso. Se tiver de escrever dez páginas escrevo, se tiver de escrever vinte escrevo. Não posso esperar que a inspiração chegue – e se ela chegar que me encontre a trabalhar, como tão bem disse Picasso. Há dias em que escrever dói mais, demora mais, e há dias em que escrever dói menos, demora menos. Não sei se o resultado final reflecte essa dor; não faço ideia. Mas continuo em frente, sempre. É, até ver, a melhor forma de chegar a algum lado. 

HT: Uma das suas muitas actividades é a formação em Escrita Criativa. Quer explicar-nos um pouco este conceito?
Pedro Chagas Freitas: Todos os escritores fizeram cursos de escrita criativa. Todos. Mas agora há mesmo actividades organizadas com esse fim. Antigamente os escritores faziam-se os cursos de escrita criativa. Lançavam-se desafios, treinavam, evoluíam tecnicamente. Tudo isso a solo. Agora têm companhia, têm outros escritores que os podem, de alguma forma, conduzir pelas suas próprias experiências. A criatividade é como um músculo: tem de ser exercitada, mais e mais. E escrever sob espartilhos é, muitas vezes, a melhor forma de a libertar. A escrita criativa consiste em oferecer ferramentas, sim; mas sobretudo em perceber que dimensão e que usos podem ter essas ferramentas. Não se ensina a escrever – mas acaba por se aprender muito a escrever. 

HT: Quais as suas referências em termos literários?
Pedro Chagas Freitas: Não tenho um autor de referência. Acredito que há pedaços de felicidade em todas as obras – todas mesmo. Mas se é para dar alguns nomes, aqui vão eles: Rui Nunes (um dos maiores portugueses de sempre e que o grande público teima em ignorar, sabe-se lá porquê), Herberto Hélder, Lobo Antunes, Saramago, Gonçalo M. Tavares, Roth, Faulkner, Beckett, Duras, Yourcenar, Foster Wallace, ... Chega?

HT: Para terminar, aquela que é a pergunta da praxe: quais os seus projectos literários para o futuro?
Pedro Chagas Freitas: Conto lançar este ano pelo menos duas novas obras: um inovador projecto, que consiste numa caixa com mais de uma centena de postais com citações e textos meus, e um livro de crónicas, com os textos que fui publicando diariamente na Fábrica de Escrita - uma página com mais de 130 mil seguidores que tive o prazer de lançar e que é gerida magnificamente pela Marisa Sousa Antunes. Esses dois livros estão certos, mas muito mais coisas acontecerão. Não paro quieto e estou sempre a inventar palermices para fazer. Ninguém imagina o que vem a seguir. Sobretudo eu.  

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