Entrevista a Paulo Sousa Costa

Esta semana entrevistei Paulo Sousa Costa, que acaba de lançar o terceiro livro da colecção "As Aventuras do Dragãozinho Azul",  Zé Preguiça Rápido Como Um Caracol.
Recorde-se que, além desta colecção de livros infantis, Paulo Sousa Costa escreveu ainda o livro "Desistir Não é Opção", uma verdadeira lição de amor para com o seu filho Paulinho.

HT: O Dragãozinho Azul, herói dos seus livros infantis, é uma personagem que homenageia o seu filho Paulinho. Como surgiu a ideia desta colecção de livros?
Paulo Sousa Costa:  Precisamente para o homenagear passando a palavra sobre a importância de sermos melhores seres humanos. É fundamental que as crianças cresçam a ouvir que não devem ser invejosos, nem gulosos, preguiçosos, etc. E nada melhor do que serem os pais a passarem esses valores, lendo livros aos seus filhos. Eu lia, quase todas as noites, uma história ao meu filho antes dele dormir, daí ter-me lembrado em eternizar o meu filhote sob a forma de um super-herói da literatura infantil, que espalha a bondade pelas crianças. É incrível quando vou às escolas para sessões de leitura e de autógrafos e percebo quão importante é para as crianças a figura do Dragãozinho Azul, que os protege…

HT: Depois do primeiro livro infantil, lançou “Desistir Não é Opção”, um livro que fala desde a notícia da gravidez até à morte do Paulinho. Este livro funcionou como uma espécie de terapia?
Paulo Sousa Costa: Não necessariamente, pois não fiquei melhor depois de o escrever. Foi uma forma de falar, de gritar e de chorar em simultâneo e no formato em que sempre me senti melhor a fazer, escrevendo. Registei no papel e para a eternidade assuntos que nunca tinha contado a ninguém. Assim que o livro foi editado, recebi milhares de mensagens de leitores e percebi que o livro acabou por funcionar como um “guia” para pessoas, que por vezes sentem vontade de desistir, muitos deles por motivos menos graves e perceberam que desistir não é opção.

HT: Alguma vez pensou em desistir?
Paulo Sousa Costa: É impossível não o pensar quando se perde um filho, mas tinha e continuo a ter um compromisso para com o meu filho a quem sempre ensinei que desistir não era um caminho plausível. Mas o mais preocupante é que quando pensava em “partir” não era para desistir mas sim para ir ter com o meu filhote ao céu…

HT: O Paulo é uma figura pública. Ainda que a dor da perda de um filho seja igual à de um anónimo, no seu caso toda a gente soube, o que vos roubou um bocadinho a privacidade num momento de dor. Como foi lidar com a comunicação social?
Paulo Sousa Costa: Pior do que perder um filho é perder um filho e ver a nossa cara em todas as revistas, em todas as bancas do país. Se por um lado, de uma maneira geral, fui bastante acarinhado pela imprensa, até porque grande parte dos jornalistas até conheciam o meu filhote, não deixou de ser bastante doloroso ver a minha tragédia nas notícias. Ainda hoje é terrível quando leio algo sobre o assunto e sei que vão escrever sempre, nem que seja uma linha, a relacionar-me com o assunto. Por outro lado, o facto de ter sido um tema mediatizado fez com que eu recebesse mensagens de apoio de todo o país (e até mesmo do estrangeiro), de pessoas que me enviavam força via redes sociais. Quando estamos sem chão, uma simples palavra de conforto, mesmo de uma pessoa que nunca vimos, acaba por ser importante.

HT: Vê este livro como uma ajuda para os pais que passam pelo mesmo?
Paulo Sousa Costa: Sei, porque continuo a receber muitas mensagens, que tem sido um livro que inspirou e inspira milhares de pessoas a olharem em frente, mesmo quando tudo parece estar perdido. E não estou a falar apenas de pessoas que perdem entes queridos. Recebo mensagens de pais e mães a dizerem que passaram a ser melhores pais depois de lerem o “Desistir Não É Opção, porque passaram a valorizar mais o tempo que passam com os filhos.

HT: Entretanto, foi Pai novamente. Li algures que com o Paulinho era um pai bastante descontraído. O que aconteceu fê-lo mudar de postura em relação à Letícia? Passou a ter mais receios?
Paulo Sousa Costa: Não só passei a perceber que não acontece aos outros, como nem sequer ganhei o direito de que não me volte a acontecer… Tenho, naturalmente, medo de voltar a passar pelo mesmo, pelo que vivo com receios que não tinha. Tento, no entanto, que os meus medos não perturbem a minha relação pai/filha, mas sei que será uma luta árdua.

HT: Hoje, depois de quase quatro anos, acredito que a dor não tenha desaparecido, talvez tenha aprendido a viver com ela. O que mudou nestes quatro anos?
Paulo Sousa Costa: Nunca vou aprender a viver com esta a dor, mas como não posso desistir, limito-me a seguir em frente. O Paulo Sousa Costa de hoje não é nem nunca vai voltar a ser o mesmo de antigamente. Sei que mudei, em vários aspetos, e não foi para melhor. Estou, por exemplo, muito menos tolerante perante as pessoas sem carácter. Escolho cada vez melhor as pessoas que me rodeiam, tanto a nível profissional como pessoal.

HT: Sei que os livros da colecção “As Aventuras do Dragãozinho Azul”, vão abordar os sete pecados capitais, faltando lançar quatro livros. Vai ficar-se pela escrita infantil ou tem planos para histórias para o público adulto?
Paulo Sousa Costa: Em Julho vou lançar o livro biográfico de Dolores Aveiro, mãe de Cristiano Ronaldo, que é uma mulher como há poucas no mundo. Durante o verão vou continuar a escrever um romance que já tinha começado a escrever antes tudo isto ter acontecido e vou acabar um texto para teatro. Para além dos argumentos que escrevo e adapto para as peças de teatro que produzo, como será o caso de “A Bela e o Monstro”. Escrever sempre foi o que mais gostei de fazer, simplesmente nunca tinha editado nenhum livro.

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