Entrevista a Pedro L. Torres

HT: O Pedro é formado em engenharia, certo? Como surgiu a ideia de escrever um romance?
PT: Sim, é verdade. Apesar de me ter formado em engenharia, desde cedo tive uma aptidão natural para as letras, a par de um gosto pelas áreas técnicas. Durante o ensino secundário aproveitei essa aptidão apenas para tirar boas notas sem grande esforço. O gosto pela leitura veio mais tarde, e algum tempo depois a escrita, que passei a praticar regularmente. Escrever este romance foi a evolução natural de um processo que já leva cerca de dez anos. O tempo necessário para apurar o estilo e a técnica, para ler muito – e sobretudo o tempo para aprender a vida.

HT: Como correu o processo de edição: foi simples ou complicado?
PT: Foi sobretudo um processo longo, no sentido em que passaram mais de dois anos desde que acabei o romance até surgir a hipótese real de o publicar. Depois da decisão positiva da editora, os acontecimentos sucederam-se de uma forma muito rápida. O texto final já tinha sido revisto, daí que não foram necessárias grandes alterações.

HT: Para quem, como eu, ainda não leu o seu livro, pode falar-nos um bocadinho sobre ele?
PT: A acção do livro centra-se no Norte de África, no século XVI, em Arzila, uma das mais importantes praças portuguesas à época naquela região. Aqui, à chegada de D. João Coutinho, Conde de Redondo e sua esposa, a Condessa Isabel Henriques, desenvolve-se uma trama complexa através das suas relações com um alcaide mouro supostamente inimigo, de seu nome Abrahem. Todas estas personagens, bem como a quase totalidade das que figuram no livro existiram de facto nesta época, e as próprias relações de amizade secretas entre cristãos e mouros estão bem documentadas. A minha construção parte deste lado menos conhecido, e desenvolve-se na ideia de que a vida privada dos protagonistas, bem como os diferentes aspectos da sua natureza humana, podem ser determinantes no curso dos acontecimentos da nossa História.

HT: Gosta de ler? Em caso afirmativo, quais as suas referências literárias?
PT: Comecei a ler a sério aos dezoito anos, com o Primo Basílio, do Eça. Desde então passei pouco tempo sem estar a ler algum livro, a ponto de adormecer com um certo sentimento de culpa, se apago a luz sem ter lido sequer um parágrafo. Enquanto estudava engenharia lia os clássicos, os existencialistas, apreciava especialmente o realismo mágico, e juntei uns quantos volumes de literatura erótica. Ao longo dos anos fui lendo um pouco de tudo, sendo que autores como Alberto Moravia ou Giovanni Papini me influenciaram bastante. Steinbeck é outro nome que me tocou profundamente. E Lolita estará entre as três maiores obras que já li (não sei dizer quais são as outras duas).

HT: Para terminar, sei que o seu romance é muito recente, mas não posso deixar de lhe perguntar: pensa continuar a escrever?
PT: Tenho vários projectos mais ou menos esboçados à espera de serem desenvolvidos. Continuo sempre a escrever, a testar as minhas capacidades e a explorá-las através da ficção. É algo que faz parte de mim, que preciso de fazer, ainda que muitas vezes seja um sacrifício terrível sentar-me em frente ao computador para escrever. Ainda assim, o sentimento depois de terminar um parágrafo, uma página, as mil palavras que supostamente devia escrever todos os dias, é de um prazer indescritível. Muito mais do que um dever cumprido. É uma paz absoluta. 

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