Entrevista a Isabel Parreira

Esta semana entrevistei Isabel Parreira, autora do Livro "A Madrasta".
Muito Obrigada à Isabel pela simpatia e disponibilidade com que respondeu às minhas perguntas.

HT: A Isabel tem 3 livros publicados. Como surgiu o gosto pela escrita?
Isabel Parreira: Não tenho muita memória do “como”, mas lembro-me do “quando”: desde muito cedo, talvez, mais ou menos inconscientemente, por volta dos 14/15 anos de idade, quando uma professora de Português, do meu 9º ano, me perguntou se nunca tinha pensado em escrever um livro. Por um lado, as suas palavras devem ter atuado como uma espécie de despertar, mesmo porque nessa altura tencionava optar pela área de ciências e acabei por seguir humanidades. Acresce dizer que na minha infância/juventude, para mais sendo filha única, tinha por companhia … livros, uma vista privilegiada para o mar e o som das ondas que batiam nos rochedos da praia.
Por outro lado, sempre tive uma grande facilidade em aprender outras línguas, de modo que tudo isso terá contribuído para me embalar no mundo dos textos e dos mais variados autores, alguns dos quais lidos na sua língua de origem.

HT: Pode falar-nos um bocadinho do seu livro “A Madrasta”?
Isabel Parreira: O meu livro A Madrasta (https://www.facebook.com/livroamadrasta?ref=hl) foi o primeiro a ser publicado, mas não foi a minha primeira experiência escrita. Antes disso, um bom par de anos antes, escrevi um romance que continua inédito. 
Foi apresentado por Sara Bahía, professora de psicologia na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, de quem fiquei fã, desde o primeiro momento: foi minha professora de psicologia educacional.
Quanto ao livro A Madrasta, a história resulta de vários fatores, por exemplo: 
 - da constatação de um número cada vez mais crescente de famílias que designo “descontinuadas”, ainda que outras sejam “re-compostas”, re-estruturadas”, “reabilitadas”… enfim… “re” qualquer coisa, como alguém observou no 1º Congresso de Madrastas, Padrastos e Enteados, no dia 29 de Novembro último, em Lisboa; 
- por inerência de profissão, pois sendo professora, convivo diariamente com jovens. Pode imaginar a panóplia de histórias que fui conhecendo ao longo de mais de 20 anos, em escolas por onde fui passando, incluindo dois estabelecimentos prisionais, e todo o enriquecimento humano que a minha experiência profissional me foi proporcionando. E digo isto, porque lecionei sempre em escolas públicas, inseridas nos mais diversos contextos socio-economico-culturais.
Há uma linha de preocupação social que percorre toda a história de Alice, a personagem principal do livro. O nome desta personagem não foi escolhido por acaso… e, com efeito, só o termo “madrasta” condena qualquer Alice no país das maravilhas, desde sempre. Para mim, não é “madrasta” quem assim é designada socialmente; é também uma questão de família, pois é no seio da família, isto é na dinâmica das relações familiares, que os pilares da comunicação, da sociabilização e, sublinho, dos afetos, se desenvolvem. Ou pelo menos, assim deveria ser, também no caso das famílias “recompostas”: sem interferências exteriores, sobretudo de membros da família, mais ou menos periféricos, que de uma forma ou de outra, opinam e/ou se intrometem por tudo e por nada. A “madrasta”, esse ser tão maléfico, é alguém de quem social ou privadamente não se deve esperar nada de bom. O livro A Madrasta é, no fundo, um livro que vem questionar / confrontar / agitar consciências, sobretudo aqueles que se vestem elegantemente ao domingo para ir à missa, para mostrar que está tudo bem, ideia esta extensível às mais variadas situações que possam caber na nossa imaginação, claro.

HT: Tem dois livros infantis editados. Qual o género que lhe dá mais prazer escrever?
Isabel Parreira: Além do livro A Madrasta, tenho um conto ilustrado a técnica de aguarela, por Carlos Santos Marques (https://www.facebook.com/carlosantosmarques?fref=ts), Aguarelista, que se chama Kahleb e o Pintor.
(https://www.facebook.com/photo.php?fbid=375637842547617&set=t.100003042145828&type=3&theater), um conto, também para adultos, não necessariamente infantil, escrito para uma atividade de pintura ao vivo executada por Carlos Santos Marques e que decorreu no Hotel Tivoli Oriente, iniciativa feita em parceria com a Invent’Arte, Associação Portuguesa de Aguarela (https://www.facebook.com/invent.arte.5?fref=ts), da qual sou vice-presidente, e do então Clube Parque das Nações, no âmbito do festival do Parque das Nações, apresentado por um reputado jornalista Andaluz, Juan Holgado, por quem tenho uma grande admiração como pessoa. 
Um outro, Dom Polvo do Fundo do Mar,
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=374467759341446&set=t.100003042145828&type=3&theater; https://www.facebook.com/photo.php?fbid=374468979341324&set=t.100003042145828&type=3&theater, este sim infantil, bilingue (Português/Espanhol), uma história em forma de poema que escrevi quando o meu filho tinha 3 / 4 anos de idade. Foi ele, aliás, quem fez as ilustrações da história, também a técnica de aguarela, com orientações de Carlos Santos Marques. Tinha 10 anos de idade!
Um outro projeto que desenvolvi, este mais artístico, uma edição de autor, limitada, Tarot de Portugal, porque sim… 
porque em mais de 10.000 mil baralhos de tarot no mundo inteiro não havia um único que fosse Português. Trata-se de um trabalho que evoca muito da nossa cultura, da diversidade do nosso país – continente e ilhas - e também algumas das personalidades portuguesas, incluindo D. Maria II e Almeida Garrett, Camões, Infante D. Henrique, A Ferreirinha… só para mencionar alguns…
Sinto-me confortável em qualquer um dos géneros, mesmo num tipo mais ensaístico, conquanto tenha uma boa pitada de humor, musicalidade, cor… e, claro está, ironia qb, por forma a conferir aos textos… movimento, vulgo, sub texto, se é que me faço entender…

HT: Gosta de ler? Em caso afirmativo, quais os seus autores preferidos?
Isabel Parreira: Que pergunta!!!! Deixe-me brincar um pouco: LOL!!!... São tantos os que gosto de ler… desde os nossos clássicos a alguns autores contemporâneos… De Fernando Pessoa a José Saramago, Tolkien, Jorge Luís Borges, um poeta português que adoro, Joaquim Pessoa… Tenho uma grande paixão por textos de teatro, sobretudo teatro do absurdo, sendo que Eugène Ionesco está entre os autores que mais aprecio dentro deste género literário. Numa outra linha, barroca, Padre António Vieira, que considero soberbo!

HT: Para terminar, tem planos para um novo livro? Se sim, quer levantar-nos uma pontinha do véu?
Isabel Parreira: Planos para outro livro: tenho alguns inéditos, sobretudo contos. Estou a trabalhar neste momento num romance de época, que me proporcionou fazer uma viagem às memórias da minha infância e que gostaria de dedicar ao meu pai. O projeto em si nunca foi apresentado a nenhuma editora, de modo estou inteiramente disponível para ser contactada.

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