Entrevista a João Cerqueira

Esta semana o meu convidado é João Cerqueira, autor do livro "A segunda vinda de Cristo à Terra", que recebeu a medalha de prata no 2015 Latino Book Awards, e a quem agradeço novamente a disponibilidade para responder às minhas perguntas.
Podem acompanhar o Percurso Literário de João Cerqueira no seu site: http://www.joaocerqueira.com/

HT: O João tem uma vasta obra já publicada: Como é que surgiu o gosto pela escrita?
João Cerqueira: Tive a sorte de herdar do meu pai uma biblioteca com centenas de livros, onde não faltava nenhum dos clássicos. Nela descobri aos dezoito anos A Leste do Paraíso de John Steinbeck; descobri então que dentro de cada homem ou mulher se podem esconder demónios e monstros muito mais aterradores do que eu poderia imaginar. Nessa altura li também o Cosmos de Carl Sagan, que me ensinou a entender o universo. Estes são os livros que me iniciaram na idade adulta. Li então duas obras marcantes: 1984 de George Orwell e Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, cujas profecias distópicas estão a ser cumpridas. Depois, destaco O Elogio da Loucura de Erasmo por me ter ensinado que, para triunfar na vida, é preciso ser louco_ qualidade que eu interpreto como ser audacioso, imaginativo e fiel a si próprio. E como o tema do desvio e da transgressão também me interessa, considero importante o livro A guerra do fim do mundo de Vargas Losa e os contos O alienista de Machado de Assis, O carrinho de mão de Pirandello e O gorila de Sérgio Sant’anna.

HT: Ao longo da sua carreira tem ganho vários prémios no estrangeiro, mais concretamente nos Estados Unidos. Isto é o resultado da promoção que faz lá fora ou da falta de interesse de Portugal na sua obra?
João Cerqueira: Quanto aos prémios que tenho ganho no estrangeiro – há semanas o meu conto Um casa na Europa venceu em Itália o Speakando European Literary Competition e a tradução inglesa ficou em terceiro lugar no Ebook me up competition na Austrália – não se trata de promoção, mas, atrevo-me a dizer, apenas de mérito. The Tragedy of Fidel Castro concorreu a seis prémios e venceu três e A segunda vinda de Cristo à Terra ficou em segundo lugar no 2015 Latino Book Award, que tem o apoio da American Library Association.  Infelizmente, em Portugal  a maioria dos jornais e revistas não deram estas notícias. A editora e eu próprio enviamos press releases para mais de cinquenta jornalistas da área da cultura e, à excepção de Sérgio Almeida do JN, nem sequer nos respondem. Pelos vistos, não consideram importante que um autor português vença prémios internacionais e seja publicado nos EUA, Inglaterra, Itália e, em breve, Espanha e Argentina. O Seatlle Post, o EL Nuevo Herald, o Examiner, a The American Culture e o Silvio Canto Radio Show, divulgam o meu trabalho, mas os jornais e as revistas portuguesas ignoram-me. No nosso país, a cultura é uma ‘’coutada de amigos’’ – e eu não faço parte do grupo.

HT: Presumo que goste de ler. Em caso afirmativo, quais as suas referências em termos literários?
João Cerqueira: Recentemente li dois livros extraordinários: Stoner de John Williams e O primeiro círculo de Alexandr Soljenitzine. Stoner narra a história de um homem que, apesar da dedicação ao emprego e à família, acaba por perder tudo. O primeiro círculo conta a vida dos prisioneiros soviéticos durante o regime de Estaline, sendo, apesar de todos os horrores, uma inesperada comédia.
Recomendo sempre a leitura de Um Deus passeando na brisa da tarde de Mário de Carvalho.
E como referências, destaco Marcel Proust, Franz Kafka, Pär Largerkvist, Mikhail Bulgakov, George Orwell, Phillip Roth, Cormac MacCarthy, Paul Auster, Gunter Gräss, W. G. Sebald, Italo Calvino, Henrique Vila-Matas, Mario Vargas Llosa, Fialho de Almeida, Eça de Queirós (Cartas), José Saramago, Lobo Antunes, Dulce Maria Cardoso e Sérgio Sant’Anna (o maior escritor brasileiro vivo).

HT: O que acha do actual panorama literário português?
João Cerqueira: Não me devo pronunciar sobre esse assunto. 

HT: Para terminar, está a trabalhar num novo livro? Em caso afirmativo, pode levantar-nos a “pontinha do véu”?
João Cerqueira: Espero publicar no próximo ano 25 de Abril: corte e costura. Trata-se de uma sátira, não ao 25 de Abril, mas ao regime democrático criado a partir da revolução. O tema principal do livro é a incapacidade das forças políticas nacionais se entenderem e cooperarem, por estarem mais empenhadas em se afrontarem do que em resolver os problemas do país. Atrevo-me pois a pensar que, por abordar a crise política, financeira e moral em que Portugal se encontra, o livro irá suscitar debate e controvérsia.

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